No mesmo dia em que os casos de coronavírus no planeta ultrapassaram 12 milhões, a Organização Mundial da Saúde (OMS) anunciou a formação de um painel independente para avaliar sua resposta à pandemia de Covid-19 e a maneira como seus países-membros vêm lidando com a crise. A medida vem menos de 48 horas após o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, notificar formalmente a Organização das Nações Unidas (ONU) seu desligamento da OMS. Segundo o diretor-geral do braço da ONU responsável pela saúde, Tedros Adhanom Ghebreyesus, a comissão recém-formada será encabeçada pela ex-primeira-ministra neozelandesa Helen Clark e pela ex-presidente da Libéria Ellen Johnson Sirleaf. Em uma videoconferência nesta quinta, Tedros disse que "é hora de uma autorreflexão".A comissão é parte resolução aprovada pelos 194 países-membros da OMS durante sua assembleia geral, em maio, que demandava uma "avaliação imparcial, independente e abrangente" da resposta internacional à crise. Na ocasião, os Estados Unidos pediam uma investigação sobre a origem da pandemia, mirando a China, mas uma proposta mais branda, sem citar os chineses, prevaleceu. A insistência americana em culpar Pequim pela pandemia é a justificava central de sua saída da OMS, notificada formalmente ao secretário-geral da ONU, António Guterres, na última terça. O presidente dos EUA, Donald Trump, insiste em se referir ao novo coronavírus como "vírus de Wuhan", marco zero da doença, e "vírus chinês" — alcunha considerada racista. Paralelamente, acusa a OMS de ser controlada por Pequim e favorável aos seus interesses. Até 2019, os EUA eram o maior contribuinte da organização, com cerca de US$ 400 milhões por ano, 22% do orçamento total. Após a suspensão dos pagamentos americanos, a China anunciou uma doação de US$ 2 bilhões à OMS, a ser feita em dois anos. A saída americana, em meio à maior pandemia do século, foi bastante criticada por especialistas em saúde pública. Os Estados Unidos são hoje o epicentro global da pandemia de Covid-19, com mais de 132 mil mortes e 3 milhões de casos confirmados, 25% do total planetário. Após conseguir controlar brevemente os vírus, o país vê um novo surto da doença, registrando recorde de casos diários em cinco dos últimos nove dias. Em diversos estados no Sul e no Leste, o aumento do número de internações ameaça sobrecarregar a rede hospitalar. Juntos, EUA e Brasil são responsáveis por aproximadamente 45% casos registrados no mundo entre os dias 1 e 8 de julho e encabeçam a aceleração da pandemia, que já matou quase 545 mil pessoas. Nos últimos seis dias, mais de um milhão de novas infecções foram registradas globalmente, fazendo com que o total de diagnósticos ultrapassasse 12 milhões nas primeiras horas desta quinta. Sozinho, o Brasil concentra cerca de 14% dos diagnósticos do planeta, com mais de 1,7 milhão de pessoas infectadas e 68 mil mortes. Na terça-feira, o presidente Jair Bolsonaro anunciou que contraiu a doença, tornando-se o quarto líder global a adoecer. Trump e Bolsonaro são internacionalmente criticados por sua conduta frente à pandemia. Durante um breve período em março o presidente americano defendeu o distanciamento social, mas pouco mais de um mês depois passou a pressionar pela retomada das atividades econômicas, tema central de sua campanha de reeleição. Na quarta, Trump ameaçou cortar o financiamento federal para escolas que não abrirem suas portas no início do ano letivo americano, em setembro. Bolsonaro, por sua vez, sempre contrariou as diretrizes da Organização Mundial da Saúde e insiste em promover tratamentos sem eficácia cientificamente comprovada.*G1