A pandemia do novo coronavírus levou à suspensão das aulas presenciais em todo o Brasil. Para os 38,7 milhões de estudantes da rede pública, porém, as escolas não têm oferecido uma estrutura remota para prover a assistência diária de costume, como alimentação, assistência aos estudantes com deficiência e aulas preparatórias para o vestibular. A pandemia do novo coronavírus levou à suspensão das aulas presenciais em todo o Brasil. Para os 38,7 milhões de estudantes da rede pública, porém, as escolas não têm oferecido uma estrutura remota para prover a assistência diária de costume, como alimentação, assistência aos estudantes com deficiência e aulas preparatórias para o vestibular. A função social da escola ficou evidente em tempos de pandemia, e a suspensão das aulas presenciais, necessária para conter a disseminação do vírus, criou um vácuo que o poder público não conseguiu ocupar em tempo hábil. — Com certeza a escola é muito mais do que transmissão de conhecimento e de conteúdos. Quando a gente pensa num país tão desigual, o acesso à escola tem a ver com o acesso à alimentação escolar, a materiais escolares, a um conjunto de políticas sociais que muitos alunos e alunas acessam por meio da escola — explica Denise Carreira, doutora em Educação pela USP. — A escola pública sobretudo é o espaço do encontro da diversidade. A escola é um espaço de apoio, de encontro, para pessoas com deficiência, por exemplo, para todas as diferenças. No início do mês em São Paulo, a Justiça determinou que o governo estadual e a prefeitura forneçam o custeio da merenda para todos os alunos, e não apenas dos integrantes de programas sociais, como havia sido feito. No Rio de Janeiro, a prefeitura ofereceu um cartão de alimentação apenas para cadastrados no Bolsa Família ou no Cartão Carioca. No Distrito Federal, o governo distribuiu um cartão alimentação para beneficiários do Bolsa Família. Na segunda semana de abril, o governo federal sancionou uma lei que prevê a distribuição dos alimentos da merenda escolar às famílias dos estudantes da rede pública, mas a medida ainda não chegou na ponta. Profissionais de educação e pais ouvidos pelo GLOBO apontam que as ações não atingem todos os alunos necessitados e, em um momento de queda no rendimento das famílias, seus valores são insuficientes. Já no final do ciclo de estudos, alunos que se preparam para o vestibular também perderam o apoio presencial de professores. Em três estados não há nenhuma forma de ensino à distância, e só em 16 há videoaulas. Mesmo nesses locais, alunos perderam semanas aguardando até que as escolas se organizassem. Além disso, o ensino remoto tem limitações: escolas não contam com canais de comunicação eficientes para tirar dúvidas, segundo os estudantes, e o conteúdo lecionado diminuiu. Muitos estados optaram por transmitir aulas pela TV, deixando de lado as necessidades individuais de cada sala de aula. — A educação à distância é um recurso, mas tem que ser vista com muito cuidado , ela não substitui a educação presencial. Temos que manter o isolamento social o máximo possível, mas após a pandemia é fundamental retomar a educação presencial. Mais do que nunca a sociedade e a família estão vendo a importância de que a educação presencial exista e seja fortalecida — opinou Denise Carreira. O GLOBO ouviu famílias e alunos de diferentes classes sociais e faixas etárias sobre como a falta de estrutura das escolas para atendê-los remotamente tem afetado suas vidas.*G1 Foto: Jorge William / Agência O Globo