A princípio mais uma oferta de emprego. A vaga era de atendente de uma loja de lingerie no bairro de Itaigara. As candidatas, a maioria, entre 14 e 18 anos. Logo, a beleza e as curvas as promoviam a modelo da loja. No entanto, após uma sessão de fotos em um hotel, as candidatas descobriam a partir daqueles cliques, que faziam parte de uma rede de prostituição que atua no centro da cidade.
Um dos integrantes, Dário Andrade Salomão, 27 anos, foi preso nesta segunda-feira (15), na cidade de Camaçari, região metropolitana de Salvador. Era ele que obrigava as meninas a se prostituírem sob ameaça de divulgar nas redes sociais, vídeos em que estuprava as vítimas ainda no hotel, depois da sessão de fotos. A polícia encontrou no celular de Dário mais de 40 pastas com fotos e vídeos de mulheres diferentes, em que o acusado mantém relações sexuais com as jovens.
“Temos aí possíveis 40 vítimas de estupro, que eram obrigadas a se prostituírem sob forma de ameaças. Ele é o operacional. Faz todo o serviço sujo”, declarou a delegada Maria Selma, titular da 16ª Delegacia (Pituba). Dário teve a prisão temporária decretada. “Já pedi à Justiça a preventiva”, disse a delegada.
Um outro homem, que teria uma função importante no esquema, e uma mulher, ambos já identificados pela polícia, já tiveram as prisões preventivas solicitadas à Justiça. “Tudo indica que é uma quadrilha, pois há informes de mais pessoas além destas envolvidas”, pontuou a delegada, que não descarta também a possibilidade da participação dos donos de hotéis no esquema. “Não descartamos nada”, disse.
Esquema
Para cometer o crime, Dário publicava anúncios de emprego como balconistas ou atendentes para trabalhar em loja. Depois, ele levava as candidatas à vaga até a vitrine de uma loja de lingerie no Itaigara, para simular que ali seria o local do emprego. Lá, uma mulher se apresentava como funcionária da loja e sugeria que a candidata fosse modelo e usasse as peças.
“Então, as candidatas ficavam encantadas com a possibilidade de uma fama e ganhar mais”, disse a delegada. Em seguida, Dário levava a vítima para um hotel no centro da cidade, onde fazia a sessão de fotos dela usando a lingerie. Já com o registro das fotos, o suspeito batia na candidata e a estuprava, além de filmar o ato.
Depois disso, as meninas eram tidas como escravas sexuais, porque elas faziam os programas para pagar uma dívida que acabavam contraindo com Dário referente aos anúncios que ele fazia delas em sites. “Essa dívida nunca acabava porque nem elas sabiam quanto deviam. Chegavam a fazer cinco programas por dia e não recebiam nada”, declarou a delegada.
Denúncia
Segundo a polícia, até o momento, apenas uma vítima registrou queixa na delegacia, que deu início às investigações em junho deste ano. No entanto, no depoimento, ela relata que outras meninas foram vítimas da mesma situação. Além disso, algumas meninas foram ouvidas informalmente e confirmaram a versão. De acordo com a delegada Maria Selma, a jovem de 18 anos teria se recusado a continuar trabalhando como prostituta e procurou a polícia depois que foi ameaçada de morte.
Na ocasião em que a jovem acionou a polícia, Dário pediu R$ 7 mil para cessar as ameaças de morte à família dela. “O pai dela pegou um empréstimo e deu R$ 5 mil, ainda assim as ameaças continuaram”, informou a delegada.
“A jovem passou mais de dez dias em minha casa porque um homem com um moto e um carro de cor escura passavam constantemente em frente à casa da família. Até hoje, o pai dela vende rifa para pagar o empréstimo”, disse o advogado da família de jovem, Ademir Sampaio.
Apresentado à imprensa, Dário se manteve calado na maioria do tempo. A exceção foi quando questionado sobre os estupros. “Manda a delegada mandar os vídeos para vocês para ver se teve estupro”, disse o acusado, negando o ato criminoso.
Dário foi autuado por estupro e rufianismo (favorecimento de prostituição ou outra forma de exploração sexual). Ele foi encaminhado para Cadeia Pública.