Escola católica de Salvador é criticada por adotar livro de escritora candomblecista em aula de religião; obra trata antirracismo
Bahia
Publicado em 02/05/2024

Uma mulher criticou o Colégio Antônio Vieira, unidade de ensino católica de Salvador, nas redes sociais, por adotar o livro "Pequeno Manual Antirracista" nas aulas de religião. O caso repercutiu na internet na quarta-feira (1º) e foi comentado pela autora da obra, a filósofa Djamila Ribeiro.

Não foi confirmado se a mulher, que se identifica nas redes sociais como apresentadora de uma rádio, é mãe de algum aluno da instituição. A indignação dela está relacionada a religião de Djamila, que é candomblecista. Essa não é a primeira vez que o colégio é criticado por adotar obras de autores negros e de religiões não católicas. [Relembre casos ao final da matéria]

 
Mulher criticou adoção de obra pelo colégio Antônio Vieira nas redes sociais — Foto: Redes sociais

Mulher criticou adoção de obra pelo colégio Antônio Vieira nas redes sociais — Foto: Redes sociais

Na postagem, a mulher afirmou que a adoção do livro pelo Colégio Antônio Vieira configura "imposição ideológica" "doutrinação escancarada". Ela ainda afirmou que o colégio usar o nome do Padre Antônio Vieira é um "desrespeito a sua memória". [Veja foto acima]

 

"Qual é o objetivo de utilizar uma autora que vem de família de outra religião, no caso específico candomblé? Existe isso qualquer conexão com a fé católica?", escreveu.

 

O "Pequeno Manual Antirracista" foi lançado em 2019 e venceu o prêmio Jabuti, o mais importante da literatura brasileira, no ano seguinte. Desde então, a obra tem sido adotada por diversas escolas, públicas e particulares, para a educação antirracista.

 
Djamila Ribeiro  — Foto: Ricardo Prado/Divulgação

Djamila Ribeiro — Foto: Ricardo Prado/Divulgação

Através das redes sociais, Djamila Ribeiro respondeu as críticas feitas pela mulher. Segundo ela, o ataque vai contra a constituição brasileira, que garante o direito à liberdade religiosa.

 

"A mãe em questão precisa estudar sobre o contexto social e racial do país, sobretudo vivendo em Salvador, capital do estado com maior população negra no Brasil", escreveu Djamila.

 

Livro foi adotado em diversas escolas públicas e particulares do Brasil — Foto: Divulgação

Livro foi adotado em diversas escolas públicas e particulares do Brasil — Foto: Divulgação

 

Em nota, o Colégio Antônio Vieira afirmou que as questões antirracistas são trabalhas junto com o projeto político pedagógico da escola, seguindo os fundamentos da Companhia de Jesus e também as diretrizes da Igreja Católica.

 

"Para nós a educação para as relação étnicos raciais é um imperativo de reconciliação com a justiça", afirmou.

 

A escola ainda destacou a existência de comitês para educação étnico racial e de gênero no colégio.

 

Outros casos

 

Livros de Lázaro Ramos e Emicida já foram alvo de preconceito após serem adotados no colégio — Foto: Divulgação

Livros de Lázaro Ramos e Emicida já foram alvo de preconceito após serem adotados no colégio — Foto: Divulgação

Essa não é a primeira vez que o Colégio Antônio Vieira é alvo de ataques devido a adoção de livros de autores negros e de religiões de matriz africana.

 

Em 2019, um publicitário criticou a escolha da escola por adotar o livro "Na Minha Pele", do ator e diretor Lázaro Ramos, pela unidade de ensino. Na época, a obra foi chamada de "lixo". O autor e o colégio não comentaram o caso. [Veja foto abaixo]

"É esse tipo de lixo que as escolas estão empurrando goela abaixo nos nossos jovens. Mandar seu filho ao colégio é uma forma de destruí-lo. Pais, atenção total com seus herdeiros", escreveu o publicitário.

Publicitário critica escola nas redes sociais por usar livro de Lázaro Ramos, post viraliza e internautas apontam racismo  — Foto: Reprodução/Facebook

Publicitário critica escola nas redes sociais por usar livro de Lázaro Ramos, post viraliza e internautas apontam racismo — Foto: Reprodução/Facebook

Em 2023, O livro infantil Amoras, de Emicida, foi alvo de intolerância religiosa praticado pela mãe de um aluno do ensino fundamental da escola. As páginas do livro foram riscadas com indicações de salmos bíblicos, enquanto informações sobre orixás foram indicadas como "falsas".

 

Em uma das páginas riscadas a mãe escreveu: "essas ideologias com origens africanas, com base em religiões anticristãs, é blasfêmia contra o Deus vivo".

Livro tem glossário, onde alguns termos são explicados para as crianças — Foto: Arquivo pessoal

Livro tem glossário, onde alguns termos são explicados para as crianças — Foto: Arquivo pessoal

Na ocasião, a direção da escola disse que é contra as declarações escritas no livro e assegurou que a obra será reposta, para que os estudantes continuem tendo acesso ao conteúdo do livro.

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