PF registra 45 propriedades e mais de 200 animais como garantia de pagamento em desdobramento de operação contra deputado
Bahia
Publicado em 23/04/2024

A Polícia Federal fez a alienação antecipada de 45 propriedades urbanas e rurais e de 245 semoventes, como são chamados os animais de bando que constituem um patrimônio, nesta segunda-feira (22). Isso significa que os bens foram categorizados como garantia para o pagamento de uma dívida.

A decisão foi tomada pela 1ª Vara Criminal de Feira de Santana, cidade a cerca de 100 km de Salvador, no âmbito da Operação Hybris II. O objetivo é desarticular uma organização criminosa especializada em lavagem de dinheiro vindos de jogos de aposta, agiotagem, extorsão, receptação qualificada, entre outras infrações penais no município e em cidades próximas.

 

De acordo com a PF, trata-se de um desdobramento da Operação El Patrón, deflagrada em dezembro de 2023, tendo como um dos alvos o deputado estadual Binho Galinha (Patriota).

Binho Galinha, deputado estadual — Foto: Agência Alba

Binho Galinha, deputado estadual — Foto: Agência Alba

Na época, foram expedidos 10 mandados de prisão preventiva, 33 mandados de busca e apreensão, o bloqueio de mais de R$ 200 milhões das contas bancárias dos investigados e o sequestro de 26 propriedades urbanas e rurais, além da suspensão de atividades econômicas de seis empresas.

 
 
 

As investigações seguem em andamento. Para o cumprimento da decisão publicada nesta segunda, a PF contou com apoio da Receita Federal, do Ministério Público Estadual (MP-BA) e da Força Correcional Integrada.

 

Documentos disponibilizados pela AL-BA

 

Na última quarta (17), a Assembleia Legislativa da Bahia (AL-BA) informou que vai disponibilizar os documentos do processo que envolve o nome de Binho Galinha, encaminhado pelo Ministério Público estadual (MP-BA), para membros do Conselho de Ética e Decoro Parlamentar, reinstalado naquele dia.

Kleber Cristian Escolano de Almeida, conhecido como Binho Galinha, é apontado como chefe de uma milícia responsável por lavagem de dinheiro e outros crimes em Feira de Santana. Ele não está preso por ser detentor do foro de prerrogativa de função, conhecido popularmente como foro privilegiado. [Veja detalhes abaixo]

De acordo com a AL-BA, a Comissão de Ética é instalada todo início de ano legislativo, porém, há 14 meses, a Casa não contava com a atuação do grupo, que pode, ao ser provocado, avaliar qualquer queixa interna ou externa envolvendo seus pares em possível quebra de decoro.

As análises resultam em pareceres, que vão da não aceitação da denúncia até a cassação de mandatos, passando por advertências ou suspensões temporárias. Fora os casos de arquivamento, todas as decisões do Conselho de Ética passam obrigatoriamente pelo Plenário.

 
Binho Galinha é suspeito de lavagem de dinheiro e outros crimes — Foto: Redes sociais

Binho Galinha é suspeito de lavagem de dinheiro e outros crimes — Foto: Redes sociais

Até esta quarta-feira, não existe denúncia formal contra o deputado Binho Galinha dentro da Legislativo estadual, porém, há expectativa de que o Conselho analise a situação do deputado a partir do envio dos documentos do MP.

 

O Conselho de Ética reinstalado nesta quarta é formado pelos deputados Alex da Piatã (PSD), Antonio Henrique Jr. (PP), Euclides Fernandes (PT), Marcelino Galo (PT), Vitor Bonfim (PV), Sandro Régis (UB), Samuel Junior (Republicanos) e Tiago Correia (PSDB).

Já os suplentes são Ângelo Coronel Filho (PSD), Fabíola Mansur (PSB), Nelson Leal (PP), Marcinho Oliveira (UB), Raimundinho da JR (PL), Robinho (UB), Emerson Penalva (PDT) e Kátia Oliveira (UB).

 

 

Investigações contra o deputado estadual

 

Binho Galinha ao lado do filho e da esposa, que também são investigados — Foto: Redes Sociais

Binho Galinha ao lado do filho e da esposa, que também são investigados — Foto: Redes Sociais

O grupo foi composto uma semana depois da Polícia Federal converter em preventiva a prisão da esposa do deputado. Mayana Cerqueira da Silva, de 43 anos, esteve inicialmente sob prisão domiciliar, mas teve o mandado revogado durante a Operação Hybrius, em Feira de Santana.

Na mesma ação, cinco policiais militares suspeitos de integrar a organização criminosa foram suspensos de atividades públicas. De acordo com a PF, o grupo é investigado por lavar dinheiro do jogo do bicho, agiotagem, extorsão e receptação qualificada.

Durante a operação do dia 9 de abril foram cumpridos:

 

  • 17 mandados de busca e apreensão;
  • bloqueio de aproximadamente R$ 4 milhões das contas bancárias dos investigados;
  • suspensão de atividades econômicas de uma empresa, que não teve o nome divulgado.

 

 

A Operação Hybris foi um desdobramento da Él Patron, que foi deflagrada no fim do ano passado e investigou o deputado Binho Galinha. Na ocasião, três PMS foram presos. Esses policiais não são os mesmos que tiveram as suspensões das atividades na semana passada.

 

Início das operações

 

Deputado é suspeito de chefiar grupo miliciano em Feira de Santana — Foto: Redes sociais

Deputado é suspeito de chefiar grupo miliciano em Feira de Santana — Foto: Redes sociais

A Operação El Patrón, deflagrada em dezembro do ano passado, teve seis pessoas presas preventivamente e 35 mandados de busca e apreensão cumpridos, em Feira de Santana.

Apesar de o deputado não estar preso em regime fechado, outros envolvidos na organização foram detidos na ocasião, incluindo familiares de Binho GalinhaRelembre:

 

  • três policiais militares;
  • a esposa de Binho Galinha, Mayana Cerqueira da Silva, de 43 anos, que cumpria prisão domiciliar até o dia 9 de abril, quando foi convertida para preventiva;
  • o filho de Binho Galinha, João Guilherme Cerqueira da Silva Escolano, de 18 anos, que está em prisão domiciliar, com tornozeleira eletrônica.

 

 

Cada integrante tinha uma função no grupo:

 PMS: atuavam como "braço armado" da milícia, fazendo as cobranças das dívidas por agiotagem e jogo do bicho.

 Empresas: os empreendimentos tinham licenciamento para funcionar, mas atuavam para lavagem de dinheiro. A PF não deu detalhes sobre os nomes das empresas, mas afirmou que os funcionamentos de todas elas foram suspensos.

 Deputado estadual: chefiava a organização criminosa.

 João Guilherme Cerqueira da Silva Escolano, filho do deputado estadual: era responsável por receber o dinheiro do crime desde quando ainda tinha menos de 18 anos. Ele repassou para o pai cerca de R$ 474 mil.

 Mayana Cerqueira da Silva, esposa do deputado estadual: as investigações apontaram movimentação financeira incompatível com os rendimentos declarados à Receita Federal e a maioria das transações feitas por ela envolvem os outros suspeitos.

Na primeira fase da operação, R$ 200 milhões e 26 propriedades rurais foram bloqueadas.

Em nota enviada à imprensa, o parlamentar informou que está à disposição da Justiça para esclarecer os fatos envolvendo seu nome e de familiares na operação. Ele nega ter praticado os crimes.

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